sábado, 6 de junho de 2009

Instabilidade econômica pode afetar relacionamento entre casais



Instabilidade econômica pode afetar relacionamento entre casais


Ansiedade e irritação são causadas pela insegurança quanto ao futuro




Tríssia Ordovás Sartori trissia.ordovas@pioneiro.com

Para quem acompanha de perto a economia, os últimos meses foram cheios de números assustadores. Entre maio e novembro de 2008, por exemplo, a Bovespa teve queda de 59%. Foram 110 dias entre o melhor e o pior momento da bolsa de valores brasileira, causando transtornos que são sentidos até hoje. O desemprego aumentou, e as empresas passaram a tomar medidas drásticas para manter o quadro funcional. Mas a crise financeira não se limitou ao âmbito econômico ou de trabalho. Como consequência, instalou-se também nos relacionamentos e conseguiu ser devastadora entre muitos casais.

Assessor de investimento de uma financeira com sede em Caxias do Sul, William Teixeira relata que, no auge da crise, muitos operadores sofreram por causa da situação.

– É muito difícil não levar o problema para casa. Na época forte da crise, no fim do pregão, a gente saía para relaxar e não chegar tão tenso em casa – relata ele, que tem namorada e costuma acompanhar o desempenho das bolsas por canais de notícias.

Experiências como a de Teixeira são mais comuns do que se possa imaginar, mesmo para quem está longe desse tipo de trabalho. Na Espanha, um estudo revelou que quase um em cada quatro homens considera que a crise afeta sua vida sentimental. Ou seja, 23% afirmam que a crise está interferindo em seus encontros amorosos e os obrigando a reduzir gastos nas atividades relacionadas com busca de pares. Por exemplo: é preciso dizer adeus às cervejinhas das sextas-feiras, sacrificar um dia de “pegação” noturna ou reduzir os jantares românticos em restaurantes.

Na avaliação da psicóloga Suzymara Trintinaglia, as pessoas vivem em uma “sociedade exibicionista”, em que se prioriza o “ter” em vez do “ser”. Assim, uma baixa na economia acarreta na diminuição desses “paliativos para a felicidade”, como as compras, os bens de consumo e os cuidados com a aparência. Com a crise, elas passam a viver a insegurança do futuro, ficam mais ansiosas e irritadas.

– A crise mais exacerbada teve um efeito significativo na vida das pessoas. Se a mulher não pode fazer o que fazia antes, como arrumar o cabelo, por exemplo, pode interferir na relação conjugal – explica.

Como as mulheres normalmente fazem as compras da casa, percebem melhor esse transtorno. Os homens, por sua vez, considerados “provedores”, podem ser afetados de forma diferente, como a diminuição da libido. É aí que a crise financeira afeta ainda o desempenho sexual.

Uma pesquisa feita com 5 mil pessoas nos EUA mostrou que o sexo de 62% delas piorou. No Canadá, um estudo realizado em 2008 com 191 homens e mulheres mostrou que 12% tiveram o casamento desfeito por “motivos financeiros” nos últimos seis meses.

A tensão gerada pela instabilidade e pelas perdas que surgem com a queda das bolsas interfere no funcionamento do organismo como um todo. Com o pensamento fixo nas cotações 24 horas por dia, alguns registram problemas de libido. O urologista Gustavo Piazza Toniazzo percebe que a crise afetou, de um modo geral, pessoas em todos os níveis de escolaridade. Pelos atendimentos realizados no consultório, ele observa que os homens estão se sentindo mais inseguros do ponto de vista emocional, o que acaba se traduzindo em baixa do desempenho sexual e em problemas de ereção.

O alento é que, assim como a crise, os problemas de relacionamentos podem ser resolvidos. As pessoas, diferentemente das variações da câmbio, podem escolher quando procurar ajuda

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Por outro lado, a crise pode estar gerando um efeito positivo no impulso por novos romances. Agências de namoro especializadas em encontrar o parceiro ideal estão anunciando que o interesse pela paquera cresceu bastante. A Match.com, por exemplo, teve seu melhor trimestre dos últimos sete anos. Outro serviço de busca de parceiros românticos, com escritórios em Nova York, Los Angeles e Miami, diz que os negócios aumentaram 40% entre os clientes do sexo feminino nos últimos quatro meses.
Os especialistas acreditam que pessoas desempregadas têm mais tempo para navegar na internet e que os serviços de namoro online são uma forma relativamente barata de conhecer um novo amor. Outros estudiosos garantem que pessoas solteiras buscam o conforto de um relacionamento durante períodos difíceis.
Como a crise financeira, a recessão sexual também começou nos Estados Unidos. Se por aqui os sinais começam a aparecer agora, por lá já existem até grupos de apoio para ajudar as mulheres a lidar com os problemas decorrentes da quebradeira geral. O Dating a Banker Anonymous (algo como Namoradas de Banqueiros Anônimas) foi criado no ano passado para que as chamadas viúvas de Wall Street compartilhassem suas tristes histórias. Fazem parte do clube 30 mulheres entre 25 e 30 anos que, além de se encontrarem uma ou duas vezes por semana, mantêm um blog.


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