quarta-feira, 1 de julho de 2009

As três faces da traição

Mesmo que estejam em relações estáveis,
algumas pessoas se sentem compelidas a
manter um envolvimento afetivo e sexual paralelo. VEJA destacou três dos
relacionamentos que mais se repetem:
busca do sexo sem romance, em geral
com prostitutas; o sexo com romance,
o adultério; e a paquera de escritório,
via e-mail, normalmente sem sexo.
A seguir, três homens e três mulheres
contam suas experiências
e expõem seus
pontos de vista sobre cada uma das situações.

SEXO SEM ROMANCE
Prazer à venda

Por que eles gostam de garotas de programa e elas
detestam a idéia de fazer sexo com um michê

Divulgação
Cena do filme Despedida em Las Vegas: o personagem vivido pelo ator Nicolas Cage se apaixona pela prostituta interpretada pela atriz Elisabeth Shue



Luiz Antunes
33 anos, personal trainer

Fotos Claudio Rossi


''Sempre gostei de garotas de programa. Elas são divertidas e compreensivas. Com elas, as fantasias correm à solta. Não só as fantasias sexuais. Sinto que posso contar qualquer coisa, porque elas já viram e ouviram de tudo, e por isso jamais me julgariam. Isso dá uma sensação muito boa. Já me aconteceu de pagar por um programa e passar o tempo só conversando. Eu revelo coisas que jamais falaria para amigos. Talvez eles até entendessem o que tenho a dizer, mas me sinto mais à vontade com essas estranhas. É óbvio que o sexo conta muito. Com elas, não me sinto cobrado a ter uma performance fora do normal nem a aparentar ser alguém diferente do que sou. Já cheguei a gastar 2 000 reais por semana em programas em locais de luxo. Sim, só tenho relações sexuais com essas garotas universitárias que vêm para a capital estudar e pagam a faculdade com esse bico. Tenho medo de doenças.

Sou uma pessoa muito sexualizada. Desde que comecei a me exercitar de forma inclemente, meu interesse pelo sexo explodiu, principalmente sobre o que é proibido. O sexo pago é algo que sempre vai estar envolto em uma aura de mistério e transgressão. Quanto mais seguro com minha aparência física, mais pronto para transgredir eu achava que estava. E isso se tornou um círculo vicioso. Depois de algumas vezes, você acaba se acostumando. E gostando. Não há cobranças, não há passado, não há nada. Só o prazer da hora.

Nos últimos tempos, a freqüência de meus encontros diminuiu. Eu estou casado. Sim, minha mulher sabe de tudo. Nós levamos muito tempo para alcançar um grau de maturidade que nos possibilita um entender e aceitar a necessidade do outro. Conseguimos afastar do casamento toda a insegurança, o ciúme e as cobranças. Acho que a traição só acontece quando você se envolve com outra pessoa. E isso comigo nunca ocorreu. Acredito que variar parceiras melhora o casamento. E vale para ela também. Claro que dá certo ciúme. Mas estamos além disso. O sexo é uma parte fundamental do casamento. Amo minha mulher, mas a fidelidade, do jeito como a entendemos, é imposta pela sociedade. Então, se é imposta, eu posso negá-la. É dessa maneira que me sinto o mais verdadeiro possível comigo mesmo. Por mais constrangedor que isso possa parecer aos outros."

Néia Sampaio
33 anos, empresária


''Pensar em uma relação com um garoto de programa provoca em mim uma sensação dúbia. Um misto de curiosidade e repugnância. Mas, antes de qualquer coisa, acho que é uma questão de vergonha. Há um preconceito perverso com as mulheres. Imagine o que vão falar de você se descobrirem que pagou por sexo? Os tempos mudaram, mas, quando o assunto é sexualidade (principalmente a feminina), tudo ainda é muito parecido com a época de nossas avós. Também acho que o ato em si tem muito mais graça como fantasia do que como vida real. A idéia de pagar para fazer sexo só tem graça se você imaginar que o sujeito vai ter a cara do Brad Pitt, jamais a de um homem comum, desses com quem a gente cruzaria num ponto de ônibus. Para pagar, precisaria ter glamour. E não tem. Eu temo a violência. Temos menos força física para nos defender. Isso é um ponto crucial: michê dá medo. Outro ponto são as doenças. Eu acredito que a maioria desses caras seja bissexual e tenha uma rotatividade de parceiros imensa. O risco de transmissão de alguma coisa é alto. Mesmo com camisinha há riscos.

O terceiro aspecto é o da afetividade. Mulheres têm dificuldade em separar sexo de amor. No caso de uma relação sexual com o prostituto, como seria a reação? Ficaria esperando o cara ligar no dia seguinte? Sinto-me muito satisfeita com minha vida sexual. Sobretudo quando resolvi começar a falar do que gosto e do que quero na cama. Não é toda mulher que consegue isso. Então, deve ser mais fácil pagar a alguém do que romper a barreira da inibição. Eu prefiro criar um relacionamento aberto com meu namorado e propor fantasias criativas e seguras. Quem tem uma vida sexual satisfatória não precisa pagar por sexo. Se isso acontece, algo está errado."

SEXO COM ROMANCE
Coração à deriva

Por que alguns homens e mulheres são sempre infiéis

Aldemar Furtado
54 anos, engenheiro

Selmy Yassuda


''Fui um traidor compulsivo. Durante anos, traí minha ex-mulher. Com quantas? Não sei. Lembro-me da maioria por características físicas ou pela roupa que usavam, do tipo: 'A loira da fila do telefone público' ou 'A morena que chorava na boate'. Traía a qualquer hora, em qualquer lugar, mesmo que eu não estivesse com muita vontade. Aquilo fazia muito bem para minha auto-estima. Eu me sentia desafiado, como um caçador que precisa enfrentar uma fera. Aprendi que não existe mulher inatingível, o que existe é mulher mal cantada. Com tato e experiência, até a Sharon Stone vai para a cama com você. Pode demorar, mas com paciência dá certo. A grande coisa é elogiar. Falar qualquer coisa. Sobre a roupa, o cabelo, a voz. É preciso imprimir certa sinceridade. Para mim, era fácil. Eu realmente era verdadeiro. A diferença é que eu tinha um objetivo em mente: queria levá-las para a cama a qualquer custo.

Em certo momento, eu tinha três namoradas, fora minha mulher. Um de meus aniversários foi comemorado com quatro bolos, feitos por cada uma delas. Ao trair, nunca pensava em minha família. É balela dizer que a gente leva a mulher e os filhos para a cama quando está com outra. Isso acontece nas primeiras vezes. Depois, você nem se dá conta. Nunca tive crises de consciência, achava que fazia todas as mulheres com que eu estava felizes, sempre. Para mim, era fácil, porque, em função de meu trabalho na época, acabava freqüentando muito a noite, indo a jantares, festas e churrascos nos fins de semana. Minha mulher nunca me acompanhava. Ou seja, eu estava sempre disponível. Acho que ela desconfiava, mas nunca abriu a boca. Isso me dava a segurança de que o casamento ia se manter independentemente das besteiras que aprontava fora de casa. Durante dez anos de união, só fiquei sete meses fiel. Mas, em certo momento, ela não suportou mais ser tão enganada. Já conversamos muito sobre tudo isso, e ela diz que até me entende e perdoa. Acho que tudo poderia ter sido diferente. Hoje vejo que fiz sofrer todas as mulheres, e isso nunca foi minha intenção. A infidelidade não é inata. É um estado de espírito. Por isso, penso que não há culpados. Nem eu nem o relacionamento que tive. Estou casado pela segunda vez, e agora mais calmo."

Maria Christina Dias
35 anos, agente de viagens



Fernando Vivas


''Não sei se nunca amei de verdade ou se é mesmo essa dificuldade em me manter fiel que me afasta de um romance que valha a pena – que é o que todo mundo sonha na vida. Mas tenho uma queda indiscutível pelo proibido. Isso tudo me atrai e me excita muito. Sempre emendei um namoro no outro. E emendava porque um namoro começava antes de o outro terminar. Preciso me sentir interessante, desejada, perceber que eu chamo a atenção dos homens. Não me contentaria com apenas um par de olhos. Ser cobiçada sempre me levantou o moral. Quando meus relacionamentos me deixavam com a auto-estima baixa, saía sozinha atrás de aventuras. Era eu mesma que tomava a atitude. Se ele me interessava, não me fazia de rogada. Ia lá e dizia. Gosto disso até hoje.

Minha relação mais séria durou treze anos e terminou por causa de minhas sucessivas traições. E começou também com infidelidade. Eu era a outra dele. Quando o início é assim, acho que você sente uma desobrigação. É aquele tipo de pensamento: 'Se ele fez com a outra, fará comigo'. E assim você constrói uma rede de justificativas para se convencer de que trair não tem nada de errado. De fato, penso que trair não é a pior coisa que se pode fazer com uma pessoa. Eu, por exemplo, nunca fiquei com a consciência pesada. Ao contrário do que dizem várias mulheres, sei muito bem separar amor de sexo. No fundo, acho que todas sabem. Mas ainda há essa expectativa sobre as mulheres, que não podem assumir sua sexualidade.

Para trair, você tem de pensar, contar histórias que façam sentido e, principalmente, nunca se esquecer do que diz. Mas a coisa não é fácil assim. Fiquei muito arrependida quando meu namorado sério terminou comigo. Um caso que não havia significado nada para mim teve aquele resultado. Quem trai sabe que em alguma hora será pego. Enquanto não é, vai se arriscando. Quem é 'pego' se sente meio tolo. Você pensa: 'Acabei com tudo por causa daquilo?'. Acho que todo mundo vive essa tensão entre monogamia e infidelidade. Quem é infiel é porque não tem a relação que espera. Sei que, quando a pessoa certa chegar, é só a ela que vou querer. Difícil é saber se ela um dia vai aparecer."

ROMANCE SEM SEXO
Intimidade virtual

Como uma simples troca de mensagens
pode significar um namoro para alguns

Divulgação/Universal Pictures
Cena do filme O Diário de Bridget Jones: a personagem vivida pela atriz Renée Zellweger manda e-mails para o personagem interpretado pelo ator Hugh Grant


Daniela Oliveira
25 anos, administradora de empresas



Fotos Claudio Rossi


''Eu estava numa relação havia quatro anos. Naquela fase em que seus parentes e os dele perguntam a toda hora quando sai o casamento. De meu lado, eu sentia que o amor estava cada vez mais adormecido. Já profissionalmente atravessava uma boa fase. Lidava com muitas pessoas e era sempre requisitada para diversas reuniões de trabalho. Ali, conheci o Pedro. Começamos a trocar e-mails de trabalho, depois de filmes, depois de restaurantes e, quando me dei conta, falávamos de nossa vida privada. Isso do e-mail é uma coisa curiosa. Como não há o cara-a-cara, você fica ousada, fica corajosa e audaciosa para paquerar. Eu contava as horas para chegar ao trabalho e checar minhas mensagens. Passei a me produzir só para ler os elogios que ele me mandava. Em determinado momento, passamos a ter um tratamento de namorados sem que absolutamente nada tivesse acontecido entre nós. Essa engrenagem só funcionava de segunda a sexta-feira. No fim de semana, era como se não existíssemos um para o outro. Até então, não havia parado para pensar em meu namorado. Várias vezes ele me ligava e eu não atendia porque estava no e-mail com o Pedro. Eu dizia que estava falando com meu chefe ou com uma amiga. Ele acreditava. Em nenhum momento me senti culpada. Não havia planejado nada daquilo. Era como se, ao chegar ao trabalho, eu assumisse outra personalidade. Acho que fiquei apaixonada. Dois meses depois, terminei o namoro. Foi então que pensei que, livre e desimpedida, poderia viver com ele o que só estávamos ensaiando desde então. Eu já nos sentia como namorados, mas nunca sequer nos havíamos tocado. Hoje vejo como essa situação é esdrúxula. Como cheguei a pensar assim? Um dia, por e-mail, sem nunca ter trocado uma palavra sobre nosso relacionamento, combinamos de nos encontrar em um motel à noite. Foi a única vez. Quando acabou, era como se o encanto tivesse ido embora junto. No dia seguinte nos ignoramos. A partir dali, nenhuma gota de intimidade, só questões de trabalho. Como se nada tivesse acontecido. Hoje, vejo que criei muita coisa. Mas ele também estimulou a situação. Meu caso terminou em sexo. Ou o sexo terminou com meu caso. Não importa."

Luis Alcântara
25 anos, jornalista




''Ela me mandou um e-mail para me dar uma força depois da bronca do chefe. Até então, nunca a havia notado. Dei uma resposta lacônica, mas a partir dali passamos a trocar muitos e-mails. Uma fofoca de trabalho, uma reclamação do colega ou uma mudança de tempo, tudo era motivo para uma mensagem. Tudo o que eu via mandava para ela. E ela para mim. Curiosamente, eu me esquecia de enviar esses e-mails para minha namorada. Era como se fosse muito mais interessante compartilhar essas coisinhas com ela do que com a garota com quem me relacionava. Eu esperava ansiosamente pelas mensagens. Chegamos a trocar mais de vinte e-mails em uma única tarde. Pelo computador, fala-se qualquer coisa. Até aquelas que não se sentem. É um exercício de poder e conquista sem a exposição de uma paquera em um bar ou coisa assim. Um dia, ela me chamou de Lu no e-mail. E foi ali que as coisas mudaram. Passamos a ser íntimos. Era uma intimidade que só ocorria na tela do computador. Porém sabíamos que havia algo entre nós, mas o que era? Se não havia beijos, sexo, nem mesmo uma conversa frente a frente, não tinha nada de mais, eu pensava. Um mês depois, ela me manda um e-mail muito insinuante. Eu a convidei para almoçar num lugar distante de nosso trabalho. Seria nosso primeiro encontro a sós para falar de algo que nunca tínhamos pronunciado. Trocamos carícias e nos beijamos. Daí em diante, passamos a almoçar juntos em dias alternados. Nosso contato físico se resumia a carinhos e beijos na mesa dos restaurantes. E e-mails. Muitos e-mails. A relação com minha namorada já não era a prioridade. Fiquei confuso. Fui indagar minha amiga 'virtual' sobre nossa 'relação'. Friamente, ela disse que não tínhamos relação, que ela jamais trairia o namorado. E que, aliás, era bom a gente cortar a amizade. Amizade? Ela era louca? Dali em diante, cortamos e-mails, conversinhas, tudo. Realmente, fiquei muito chateado. Acho que ela quis me usar, ver até onde chegava a brincadeira. Coincidentemente, meu namoro terminou. Lamento ter enganado minha namorada. Aprendi que traição não se resume a sexo. Trair é fazer algo escondido. Não interessa se você só beijou ou se fez sexo selvagem. No momento em que esconde de sua companheira pensamentos ou ações sobre uma terceira pessoa, você está traindo, sim. Quem diz o contrário mente."

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