quarta-feira, 1 de julho de 2009

PAIS E FILHOS

Eles não querem mais
tempo com os filhos

Pesquisa revela que, para os pais,
pouquíssimas horas de convivência
já são suficientes

Photodisc


A maioria dos homens gostaria de passar mais tempo com seus filhos, certo? Errado. Apesar da impressão de que muitos deles se culpam por enfrentar longas jornadas longe de casa e, por conseqüência, da companhia de suas crianças, a verdade é que eles estão muito satisfeitos com o tempo reservado a elas. Tem mais: sabe o exaustivo debate sobre a necessidade de prolongar a licença-paternidade? Da importância de os homens permanecerem em casa por mais tempo junto à família? Esqueça. É uma discussão que parece estar totalmente fora de contexto. Pelo menos, na opinião masculina. A maioria dos pais diz acreditar que os cinco dias previstos por lei são mais do que suficientes. Surpreso? Esses dados reveladores são o resultado de uma pesquisa do Instituto Vox Populi encomendada por VEJA. De acordo com a pesquisa, os homens acreditam que as mulheres são muito mais adequadas a desempenhar o papel do que eles. A maioria ainda acredita ser mais eficiente providenciando o pão do que trocando fraldas. E não é tudo. Segundo eles, mesmo que quisessem ser menos ausentes, seria impossível. Eles atribuem ao trabalho a dificuldade. A razão é que as empresas não estariam nem um pouco interessadas em patrocinar o surgimento
do pai exemplar em detrimento do funcionário-padrão.

À primeira vista, os resultados da pesquisa denotam uma contradição. Há anos se ouve dizer que os homens almejam ser mais sensíveis e participativos. O que significa essa pregação de uma postura que soa a algo tão à moda antiga? "Isso não quer dizer que somos uma horda de pais desnaturados. É impossível eu pedir a meu chefe para sair mais cedo a fim de levar meus filhos ao parquinho. Para fazer isso, eu teria de trocar de profissão. O mercado de informática é muito dinâmico e exige dedicação exclusiva. Preciso trabalhar para dar educação e saúde a meus filhos", diz o engenheiro químico carioca Adriano Gama Alves, de 38 anos. O contato com os filhos Vitor, 8 anos, e Felipe, 6, se resume a uma hora por dia. "Sei muito pouco sobre a vida escolar deles. É muito difícil conseguir ir a uma reunião de pais", afirma. A solução foi a mulher, Denise Alves, 39 anos, largar um dos empregos. "Alguém tinha de dar atenção às crianças." Ela passou a trabalhar meio expediente, aceitando remuneração mais baixa em troca de um horário mais flexível. "Um dos dois tinha de ir para o sacrifício", observa.

O fato é que raramente os homens se dispõem a mudar de vida, reduzindo a carga horária no trabalho ou o salário, por exemplo, para acomodar as necessidades dos filhos. Injustamente, espera-se que a mãe supra a lacuna familiar. Em geral, é o que acontece. "As mulheres sempre foram educadas para cuidar da família. Agora, com carreira e horários a cumprir, elas se sentem divididas e insatisfeitas. Às vezes, a culpa de estar longe do filho supera as ambições profissionais", afirma a mestre em educação Tania Zagury, autora de Educar sem Culpa – A Gênese da Ética. Segundo ela, os homens têm menos razões culturais para sentir o mesmo. "A maior parte deles não acha que dá pouca atenção aos filhos. Eles consideram que fazem mais do que seus pais faziam", afirma. Mas o ponto decisivo é que eles se sentem despreparados para assumir funções domésticas e a educação dos filhos. "Ao contrário do que acontece com as mulheres, que sempre têm a mãe para dar conselhos e orientações, meu pai nunca me ensinou nada sobre isso", diz o geógrafo capixaba Eduardo Valente Meira, 37 anos. A opinião popular captada pela pesquisa traduz o pensamento dominante dos estudiosos. Para eles, a visão masculina ainda é a do provedor. "É o que eles acham que conseguem. Acham que cooperando com o sustento da família estão dando carinho à mulher e aos filhos. Embrenhar-se no mundo doméstico os apavora", analisa o psicanalista José Inácio Parente, do Rio de Janeiro, que mantém um site para tirar dúvidas de pais (www.pai.com.br).

Não há estatísticas sobre o assunto, mas estima-se que o tempo que o pai brasileiro passa ao lado do filho é de cerca de uma hora por dia, o dobro do pai americano. Estudos mostram que, enquanto as mulheres cuidam da rotina, os pais gastam a maior parte do tempo com os filhos com jogos, brincadeiras e vídeos. "Pais tendem a ser mais espontâneos, fisicamente ativos e brincalhões com os filhos do que as mães", afirma o psicólogo americano Henry Biller, autor do best-seller Father Power. Esse comportamento costuma irritar as mulheres. Elas querem que eles façam mais do que apenas companhia aos filhos. Querem vê-los assumindo tarefas domésticas, e não apenas aproveitando o que a paternidade tem de confortável.

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