quarta-feira, 1 de julho de 2009

solteiros

Elas estão ótimas. Já eles...

Diferentemente do que ocorre com as mulheres,
a rotina é cruel para homens que passaram dos
30 anos e não têm namorada

Oscar Cabral
Jorge Bispo
A atriz Maíra Carneiro: vida de solteira comemorada em baladas com as amigas O carioca Tiago Janot: compras de madrugada por não ter uma companhia

Durante muito tempo, os estereótipos sobre a vida de homens e mulheres solteiros eram assim definidos: enquanto eles estavam sozinhos por opção, aproveitando a vida com amigos em festas e viagens, elas sofriam com a falta de um namorado. Lentamente, a percepção sobre esse estilo de vida começa a mudar. Pesquisas recentes mostram que as mulheres solteiras estão mais à vontade sozinhas. Elas se divertem com as amigas, fazem dezenas de cursos e, em geral, têm um hobby.

Já os homens parecem caminhar em outra direção. Há uma tremenda dificuldade de encontrar um espaço próprio na solteirice. Principalmente na faixa dos 30 e poucos anos, quando a maior parte dos amigos já está casada e a idéia de passar as noites numa boate atrás de companhia arrepia mais do que seduz. O resultado é que a grande maioria deles acaba vivendo de maneira solitária. Fica em casa vendo filmes em vídeo, tomando cerveja na frente da TV ou navegando na internet por pura falta de companhia.

Repare nas duas fotos que ilustram esta reportagem. De um lado, o modelo carioca Tiago Janot, 39 anos. Ele é bonito, bem-sucedido e mora num belo apartamento. Mas suas noites de sábado costumam ser assim: enchendo o carrinho de frutas, vinhos, alguns queijos e muita embalagem Tetra Pak no supermercado. "Já passei da idade de badalar feito louco. Estou mais calmo e não me vejo nesse furacão de bares e joguinhos de paquera. Não há muito que fazer. No fim de semana, mato o tempo mesmo vendo filmes em DVD", afirma. De outro, a atriz Maíra Carneiro, de 26 anos. Linda, charmosa e desimpedida, ela tem uma agenda social atribuladíssima. "Se bate a solidão, passo a mão no telefone e ligo para as amigas na hora. Saímos em turmas de seis ou sete. É uma festa", conta. De fato, as perspectivas masculinas não são nada animadoras. Especialistas afirmam que a vida do solteiro trintão tende a se tornar ainda mais angustiante. "O fenômeno da solidão masculina tem aumentado muito", comenta o psicólogo Ailton Amélio, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo. "Ao contrário do que se pensa, os homens sofrem mais que as mulheres com a falta de companhia. Elas se agrupam. Já eles tendem a se isolar", diz.

O fato é que não existe uma estrutura preparada para abrigá-los. As baladas são feitas para homens em grupo, que saem juntos em busca de aventuras de uma noite. Não há programas reservados para aquele homem que queira sair só com um amigo. Um chope no bar é o máximo. "Engana-se quem acha que é normal sair para jantar com um amigo. É algo que parece ser privilégio de mulheres e gays. Vá jantar com um colega de trabalho num restaurante japonês para ver com que reserva você será olhado pelos seus vizinhos de mesa, desconfiados de seus hábitos sexuais", afirma o publicitário gaúcho Roland Talbot, 32 anos, um habitué solitário de sessões tardias de cinema. "Cinema com amigo também soa esquisito. Então, vou sozinho às últimas sessões, porque assim que acaba volto para casa e durmo", explica.

O grupo social que mais cresce no mundo é o dos solteiros. Em países como a Inglaterra, um em cada quatro lares é ocupado por uma pessoa sozinha, quase o mesmo porcentual dos Estados Unidos. No Brasil, os solitários estão em 10% das casas nas grandes cidades. Segundo o IBGE, há cerca de 20 milhões de homens solteiros no Brasil com mais de 18 anos. São eles os grandes responsáveis por engrossar segmentos da economia que não param de crescer. A cultura do solteirismo inclui comida congelada, internet e joguinhos de computador. Segundo cálculos da Ubisoft, uma das maiores fabricantes de jogos de computador, adultos solteiros, entre 25 e 35 anos, são responsáveis por 80% do consumo de videogames no país. Quando se fala em internet, eles também detêm o monopólio do setor. Segundo uma pesquisa feita pelo site Cadê? e pelo Ibope, 79% dos internautas brasileiros são solteiros, separados ou divorciados e pertencem às classes A e B. "Quando vejo como a vida do solteiro é retratada no cinema e nas novelas e comparo com a minha e a de meus amigos, dá vontade de dar risada. Aquele homem que sai do trabalho direto para brilhar na quadra de squash e depois emenda um jantar com uma loiraça maravilhosa só existe na ficção", diz o locutor mineiro Eduardo Mello, 38 anos. Para diminuir o tempo de solidão, ele fica até mais tarde no escritório. Enrola pelo menos duas horas para não voltar para casa muito cedo. "Ser solteiro até os 30 e poucos é ótimo. Depois disso, a gente sente que ficou para titio mesmo", afirma Mello.

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